Monday, September 11, 2006

QUEM DISSE QUE BURROUGHS VELHO NÃO APRENDE TRUQUE NOVO?






















“Delinqüentes roqueiros no auge da adolescência tomam de assalto as ruas de todas as nações. Invadem o Louvre e jogam ácido no rosto da Mona Lisa. Abrem portões de zoológicos, manicômios e prisões, arrebentam encanamentos com martelos pneumáticos, arrancam o assoalho dos toaletes de aviões, apagam faróis à bala, limam cabos de elevadores até que fiquem com a espessura de um fio de cabelo (...) , promovem rachas suicidas no comando de ônibus e aviões de passageiros, usam jalecos para invadir hospitais carregando serrotes e machados e bisturis com um metro de comprimento...”

“O resultado final da proliferação celular completa é o câncer. A democracia é cancerosa, e seu câncer são as repartições. Uma repartição cria raízes em qualquer parte do Estado, torna-se maléfica como a Divisão de Narcóticos e cresce de forma incessante, reproduzindo cada vez mais indivíduos de sua espécie até o ponto em que, se não for controlada ou extirpada, acaba por asfixiar seu hospedeiro. Repartições não são capazes de viver fora de um hospedeiro, pois são organismos verdadeiramente parasitas. (...)”

“(...) Americanos morrem de medo de abrir mão do controle, de deixar as coisas acontecerem por si sós, sem interferência alguma. Se fosse possível, entrariam dentro dos próprios estômagos para digerir a comida e depois enfiar a merda para fora usando pás.”

[Cacos juntados do Naked Lunch(Almoço Nú), de Willian Burroughs]

Thursday, August 31, 2006

EU PENSEI QUE TODO MUNDO FOSSE FILHO...


PAPAI NOEL VELHO BATUTA

Papai noel filho da puta, rejeita os miseráveis, eu quero matá-lo, aquele porco capitalista, presenteia os ricos e cospe nos pobres... papai noel filho da puta, rejeita os miseráveis, eu quero matá-lo, aquele porco capitalista, presenteia os ricos e cospe nos pobres, presenteia os ricos e cospe nos pobres... papai noel filho da puta, rejeita os miseráveis, eu quero matá-lo, aquele porco capitalista, presenteia os ricos e cospe nos pobres, presenteia os ricos e cospe nos pobres, presenteia os ricos e cospe nos pobres...

[Letra da banda de punk rock oitentista paulistana, Garotos Podres(imagem retiradado google)]

Saturday, August 26, 2006

“SWIMMING, SWIMMING IN THE SWIMMING POOL”























GUTS

Inspire.
Inspire o máximo de ar que conseguir.
Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais.
Então leia o mais rápido que puder.
Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre "fio-terra". Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.
Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.As pessoas na França possuem uma expressão: "sagacidade de escadas." Em francês: esprit de l'escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa...Enquanto você desce as escadas, então - mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora. Esse é o espírito da escada. O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz. Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer... melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente. Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa. Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem.Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital. Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha. Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho. Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau. Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida. Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente. O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmão mais velho da Marinha escreveu. No telefone, nesse momento, ele começa a chorar. Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado. Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas. O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d'água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos. Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe. Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nas quais você não se preocupa que te pegam. A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado. Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação. Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo. Faço isso de novo, e de novo. Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água. E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa. Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida. As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície, mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás... mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer. Então... eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar. Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3. Ver essa pílula foi o que me salvou a vida. Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer. O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas. Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim, flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma. Deus proíba que meus pais vejam meu pau. Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre uma camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d'água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino. Você então vê contra o que eu lutava. Se eu largo, sai tudo. Se eu nado para a superfície, sai tudo. Se eu não nadar, me afogo. É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto. O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na água turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma. Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado. Algo sobre o qual nem os franceses falam. Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos "Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça...," os russos dizem, "Preciso disso como preciso de dentes no meu cú......Mne eto nado kak zuby v zadnitse. Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer. Droga... mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes. Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo. Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar. É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, "Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque." E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim....Precisava disso como precisaria de dentes no cú. oje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos. Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, "Aquela porra daquele cachorro era maluco."Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, "Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo...."E então a menstruação da minha irmã atrasou. Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.
Nunca.
Essa é a nossa cenoura invisível.
Você.
Agora você pode respirar.
Eu ainda não.



[Traduzido do conto publicado no livro "Haunted", de Chuck Palahniuk (autor do livro que deu origem ao filme "Clube da luta", de David Fincher), título extraído da canção “Swimming Pool”, de Paulo Bonfá e Marcos Bianchi e foto baixada no http://sxc.hu]

Tuesday, August 22, 2006

RADIOGRAFIA DE UM VENCIDO.
















VERSOS INTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

[De Augusto dos anjos, em Eu e Outras Poesias(A radiografia é minha mesmo)]

Monday, August 21, 2006

STATUS QUO DE BÊBADO NÃO TEM DONO.






















"A raça humana sempre me causou nojo. Intrinsecamente, o que torna tudo nojento é a morbidez do relacionamento familiar, o que abrange casamento, intercâmbio de poder e auxílio, e isso, feito ferida, uma lepra, transforma-se então: no vizinho de porta, na redondeza, no bairro, na cidade, no município, no estado, no país...em todo mundo, um agarrado ao cu do outro, na colméia da sobrevivência pela imbecilidade de um medo animalístico".

{Charles Bukowski[de O grande Casamento Zen Budista(texto achado não é roubado de http://senteapua.blogspot.com e imagem idém de http://www.bukowski.net]}.

Wednesday, August 09, 2006

PASSARIM QUE COME BOLA DE GUDE SABE O CÚ QUE TEM.












COMPLEXO DE ÉPICO

Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de se chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?

Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!

Por que então esta metáfora-coringa
chamada "válida",
que não lhe sai da boca,
como se algum pesadelo
estivesse ameaçando
os nossos compassos
com cadeiras de roda, roda, roda?

E por que então essa vontade
de parecer herói
ou professor universitário
(aquela tal classe
que ou passa a aprender com os alunos
-- quer dizer, com a rua --
ou não vai sobreviver)?

Porque a cobra
já começou
a comer a si mesma pela cauda,
sendo ao mesmo tempo
a fome e a comida.












Defeito3: POLITICAR

Filha da prática
Filha da tática
Filha da máquina
Essa gruta sem-vergonha
Na entranha
Não estranha nada

Meta sua grandeza
No Banco da esquina
Vá tomar no Verbo
Seu filho da letra

Meta sua usura
Na multinacional
Vá tomar na virgem
Seu filho da cruz.

Meta sua moral
Regras e regulamentos
Escritórios e gravatas
Sua sessão solene.

Pegue, junte tudo
Passe vaselina
Enfie, soque, meta
No tanque de gasolina.

[Dos disco Todos os Olhos e Com Defeito de Fabricação, de Tom Zé]

KICK IN THE EYES.




















MANIFESTO OBSONETO [2.8]

(pros poetas ditos "sujos" que nunca esquecem
o modess e trocam de meia de meia em meia hora)

Isso não é poesia que se escreva,
é pornografia tipo Adão & Eva:
essa nunca passa, por mais que se atreva,
do que o Adão dá e do que a Eva leva.

Quero a poesia muito mais lasciva,
com chulé na língua, suor na saliva,
porra no pigarro, mijo na gengiva,
pinto em ponto morto, xota em carne viva!

Ranho, chico, cera, era o que faltava!
Sebo é na lambida, rabo não se lava!
Viva a sunga suja, fora a meia nova!

Pelo pelo na boca, jiló com uva!
Merda na piroca cai como uma luva!
Cago de pau duro! Nojo? Uma ova!

PENSO, LOGO CAGO [5.23]

Eu não nasci,
pois não me lembro de isso ter acontecido.
Não morri,
pois também não me lembro que isso tenha acontecido.
E, se não nasci nem morri, das duas uma:
ou sou Deus ou não existo.
Ora, como nem tudo que eu quero acontece
e nem tudo que acontece eu quero,
não sou Deus.
Portanto, não existo.
Logo, não penso.
Então este raciocínio é falso,
e nesse caso eu não passo de um mero amnésico.
De qualquer maneira, nada tem importância:
se perco a memória,
tanto faz que tudo seja ou não verdade.
Basta dar a descarga
e passar pro papel.

[Perólas expelidas por Glauco Mattoso(quer mais? http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/quem.htm)]

Monday, April 10, 2006

BAFO DE BOCA DO INFERNO.


A MESMA MARIA VIEGAS SACODE AGORA O POETA
ESTRAVAGANTEMENTE PORQUE SE ESPEYDORRAVA MUITO



Dizem que o vosso cu, Cota,

Assopra zombaria,

Que aparece artilharia,

Quando vem chegando a frota:

Parece, que está de aposta

Este cu a peidos dar,

Porque jamais sem parar

Este grão-cu de enche-mão

Sem pederneira, ou murrão

Está sempre a disparar.



De Cota o seu arcabuz

Apontado sempre está,

Que entre noite, e dia dá

Mais de quinhentos truz-truz:

Não achareis muitos cus

Tão prontos em peidos dar,

Porque jamais sem parar

Faz tão grande bateria,

Que de noite, nem de dia

Pode tal cu descansar.



Cota, essa vosso arcabuz

Parece ser encantado,

Pois sempre está carregado

Disparando tantos truz:

Arrenego de tais cus,

Porque este foi o primeiro

Cu de Moça fulieiro,

Que tivesse tal saída

Para tocar toda a vida

Por fole de algum ferreiro.

(das satíricas pornográficas de Gregório de Matos)

Thursday, April 06, 2006

AOS CÃES QUE DESCOMEM PÉROLAS.



O CÃO E O FRASCO

"- Meu belo cão , meu cãozinho , meu querido totó , vem cá , vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade .
E o cão , agitando a cauda , o que é , suponho , entre esses pobres seres , o sinal correspondente ao riso e ao sorriso , aproxima-se e , curioso , mete o nariz úmido no frasco destampado ; porém subitamente , recuando de susto , late contra mim , à feição de reprimenda .
- Ah , miserável cão ! Se eu te houvesse oferecido um embrulho de excremento , decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado . Assim , ó indigno companheiro de minha triste vida , tu te assemelhas ao público , a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados , que o exasperam , mas imundíces cuidadosamente escolhidas ."

( Charles Baudelaire – Tradução Aurélio Buarque de Holanda Ferreira )

Tuesday, April 04, 2006

AS MILONGAS DO MILLOR


ENTREVISTA

FREUD ERA GÊNIO OU BOBALHÃO?

Nem uma coisa nem outra. Lembra as brigas que Freud tinha com o Jung? No fundo, era briga de duas bichas-loucas. Uma historiadora italiana conta uma passagem ótima com o neto do Freud. O neto pergunta: "Vovô, mulher tem perna?". Faz sentido. Freud nunca viu perna de mulher e fez sua obra girar em torno do sexo. Na época dele, as pessoas iam para a cama e nem tiravam a roupa, a relação era um extra. Em compensação hoje chegamos a um ponto que, se você quiser viver um pouco mais calmo, tem de evitar o sexo, porque a transa é fácil, é imediata.

Quando Freud foi para os Estados Unidos com Jung, o reitor de uma universidade quis homenageá-lo, afinal, os americanos se curvavam à psicanálise como ciência. Como sempre, Freud "medrou" e não foi à cerimônia. Jung foi. O reitor fez as apresentações e no final errou. Pediu uma salva de palmas para o doutor Sigmund Freud. É assim que se faz: as pessoas jogam sua crença numa coisa científica e depois votam no Lula.

PRONTO, ENTRAMOS NA POLÍTICA. VOCÊ TEM ACOMPANHADO AS CPIS?

Acompanho tudo. E alguém consegue deixar de ver? Que país maravilhoso é esse Brasil, que acontece essa esculhambação homérica e até agora não tem ninguém preso... Os contestados, os ameaçados, todos falam de dedo em riste!

TEMPOS ATRÁS VOCÊ TERIA DITO QUE O BRASIL É INGOVERNÁVEL. É MESMO?

Não disse que o Brasil é ingovernável. Não diria isso até porque o problema não é o Brasil. Veja o que aconteceu na Espanha pós-Franco. Era uma roubalheira desenfreada com o González. Aquela gente roubava dinheiro em parceria com o ETA! Era dinheiro para dar armas, dinheiro para tirar armas... Na Inglaterra, o filho da senhora Thatcher meteu a mão. O filho do Kofi Annan também, e o pai se faz de distraído.

OU SEJA, ROUBALHEIRA NÃO É COISA NOSSA?

O que eu acho é que roubalheira, no Brasil, é algo desumano. A corrupção na época de Henrique VIII era briga de foice. O papado, aquela coisa sórdida de tirar dinheiro de todo mundo. Você tinha os pecadores, os pecaminosos e os puros. O negócio das indulgências prosperou porque as pessoas queriam morrer em pureza. Acabaram por descobrir a pureza absoluta, que é a do Cristo, e assim inauguraram o Banco Central das indulgências. O sujeito era considerado louco, tísico ou leproso se não desse a grana. Já no século 18, quando a burocracia foi criada, aí despejaram veneno no mundo. O burocrata é o fim de linha. É o cara que fica na ante-sala e não deixa você falar com quem decide.

A MALA É O SÍMBOLO DESSA CRISE. MALA PARA CAIXA DOIS, PARA RECOLHER DÍZIMO DOS FIÉIS, PARA EMPRÉSTIMO... REEDITA-SE A ANTIGA FIGURA DO "HOMEM DA MALA", O SUJEITO QUE PAGA TUDO, QUE ARCA COM AS DESPESAS...

Um momento. Quando eu vi a mala com que os agentes da Abin grampearam aquele cara, não acreditei. Eles compraram aquela coisa de um contrabandista do Paraguai, só pode ser. Hoje você filma o sujeito com uma microcâmera instalada no relógio de pulso, e a imagem é digital, o som, perfeito... O que era aquela mala da Abin?!

POIS O PRESIDENTE JURA QUE NÃO TEM NADA A VER COM ISSO TUDO.

As pessoas não gostam quando falo isso, mas 95% da humanidade é absolutamente idiota, e os outros 5% são discutíveis. O Lula veio de baixo, é um homem de origem humilde, mas o partido dele tem 25 anos. Se não foi no primeiro, no segundo ou no terceiro ano, em algum momento ele passou a receber dinheiro, até como forma de salário do PT. Ora, Lula tem 59 anos. Há 25 anos, tinha 34. Com essa idade ainda se pode ir para o colégio.

Passei mais fome do que ele, a diferença é que eu era carioca. Meu pai morreu quando eu tinha 1 ano, minha mãe, quando eu tinha 10, nós descemos de classe média para proletariado e depois para lumpesinato. Não havia literalmente o que comer, e nem por isso fiquei me queixando. Quando passei de 100 para 300 réis de salário, ia para o curso do Liceu de Artes e Ofícios e pagava para estudar. Não fiquei esperando o Estado bancar.

VOCÊ ACHA QUE O PRESIDENTE TEM ESSA MÁGOA NÃO RESOLVIDA, A MÁGOA DA MISÉRIA?

Hitler também veio de baixo. Era um filho da puta no meio daquela Áustria cheia de milionários. Agora fica essa conversa de que a elite não engole o Lula. Acabei de escrever uma nota para a Veja com a relação de lucros dos seis ou sete maiores bancos do País. A lista da elite. O que menos lucrou declarou ganhos da ordem de R$ 1,5 bilhão! Daí escrevi: enquanto isso, um bando de vagabundos vai ao Banco Central de Fortaleza e rouba R$ 160 milhões. Mas já se disse: "O que é um assalto ao banco diante de um banco?".

NÃO HÁ MESMO JEITO DE ACABAR COM A CORRUPÇÃO?

Corrupção é câncer que não se extirpa. O pessoal se recolhe por um tempo, mas depois volta a meter a mão. Tenho uma idéia: o Brasil deveria instituir o voto contra. Não tem o voto a favor? Então, quero votar contra o Maluf, por exemplo. Duvido que o Garotinho se eleja para alguma coisa.

O QUE VOCÊ DIZ DAS PROMESSAS DE FAXINA ÉTICA, DAS MANIFESTAÇÕES POPULARES, DAS CONVOCAÇÕES PELA INTERNET? VEM AÍ UMA ONDA PATRIÓTICA?

Tem esse movimento pedindo paz, que coisa linda, e os caras lá do morro vendo tudo e dando risada. Conhece aquela frase? "O patriotismo é o último refúgio do canalha." E eu acrescentaria: no Brasil, é o primeiro. Agora tem a denúncia de que pagaram despesas do presidente no valor de R$ 29 mil. Não é nada na escala da roubalheira. Mas, como o salário mínimo é R$ 300, R$ 29 mil equivalem a oito anos de trabalho de uma pessoa que vive com essa mixaria!

VOCÊ TEVE PROBLEMAS COM O EX-MINISTRO ALDO REBELO?

Escrevi alguma coisa quando ele fez a tal lei proibindo estrangeirismos. Ora, quando os portugueses chegaram a este país trouxeram a língua deles, e pronto. Se não, até hoje estaríamos falando nhangatu, na base do "nós não sabe falar português".

MAS DE ONDE VEIO A BRONCA DO MINISTRO?

Ele baixou a tal lei e eu escrevi que aquilo era idioletice (sistema lingüístico de um indivíduo). O homem se sentiu ofendido e me processou. As pessoas não têm obrigação de saber o que é idioletice, mas o ministro tem. Ele pediu uma indenização de R$ 30.200, já quantificando o que queria receber! Não disse que ele é um idiota, mas pergunto: no politicamente correto não se pode dizer que um sujeito é idiota? Esse pessoal do governo não sabe que existe poesia, prosa e língua falada. Você escreve poesia. Você escreve prosa. Mas você fala a língua. Fala e vai modificando a língua.

O MINISTRO FOI MEXER JUSTO COM VOCÊ, UM TREMENDO FRASISTA.

Gosto da precisão da frase. Sartre diz: "O inferno são os outros". Certo, mas eu completo: "E o céu também". Há o dito popular: "Cão que ladra não morde". Eu acrescento: "Enquanto ladra". A igreja prega que "o dinheiro não é tudo". Não é mesmo, dinheiro não compra a juventude, o vigor físico, a inteligência, a felicidade, etc., etc. Então eu diria assim: "Tudo é a falta de dinheiro".

COMO FICOU O PROCESSO?

Respondi com um arrazoado para o ministro, queria ver advogado fazer algo parecido. Mostrei o que é idioletice, fiz um histórico da palavra em várias línguas, fui chamando o sujeito de ignorante de alto a baixo. Entreguei o arrazoado para o departamento jurídico do jornal e esqueci o caso. Mas veja a truculência do método: se eu escrevi um artigo e fui processado, o que dizer da imprensa? Ela pode ser intimidada por esses caras. Eles não sabem que sou uma pessoa honesta por imposição do mercado.

COMO ASSIM?

Toda vez que me disponho a ser corrompido, não chegam no meu preço. Quando me dão 5 mil, pode ter certeza que eu tinha pensado em 10 mil. Daí vem um sujeito e me oferece 20 mil, eu que não estou acostumado já vou logo perguntando: o que é que você está pensando de mim?! Vou contar uma piada. O camarada embarca num avião e vai para Nova York com uma mulher linda na poltrona ao lado. Viaja horas entusiasmado, louco para puxar conversa com aquele mulherão. Faltando uma hora para terminar o vôo, toma coragem e diz: "Olha, estamos chegando, você é linda, maravilhosa, se eu lhe oferecer US$ 100 mil, você passa uma noite comigo?".

A mulher olha para ele, pensa e acaba aceitando, afinal, são US$ 100 mil. Passa meia hora e o sujeito abre o jogo: "Estou perdido de encanto por você, mas na verdade eu só posso oferecer US$ 10 mil". A mulher pensa, pensa, vá lá, está bem. Quase na hora da chegada, o sujeito diz que está em dificuldades financeiras, que pode apenas oferecer US$ 1.000 dólares pela noite. A mulher reage: "O quê?! Está pensando que eu sou uma prostituta?". Ao que o sujeito responde: "Isso ficou estabelecido na primeira conversa. Agora estamos apenas discutindo o preço".

MILLÔR, VOCÊ QUE É TRADUTOR DE MÃO CHEIA, QUE TEM INTERESSE PELAS PALAVRAS, COMO SE SENTE ASSISTINDO ÀS CPIS? A LÍNGUA TEM SIDO MALTRATADA?

Completamente. Não só pelos depoentes como pelos interrogadores. Eles não batem "lé" com "cré", não há preposição no lugar certo, não tem plural, não tem verbo no tempo adequado... Sabe o que escrevi sobre essa turma? "Estão convencidos de que a regência acabou com a proclamação da República". Este país é incrível... Daí vêm os gays e começam a bancar apostas para saber quem é o mais gostosão da CPI. Parece que o Delcídio está ganhando, com algo em torno de 53% dos votos, contra Antonio Carlos Magalhães Neto, que teria 38%. Ah, o ACM Neto, com aquelas roupinhas... Deve estar furioso.

O QUE VOCÊ ACHA DAS METÁFORAS DO PRESIDENTE?

Futebolísticas. Antes mesmo que ele chegasse ao poder supremo, eu disse do Lula: "A ignorância subiu-lhe à cabeça". Isso não é piada! O homem popular é "endeusável" enquanto está no popular. Quando está, por exemplo, no botequim. Mas não se deve tirá-lo do botequim para discutir na Academia Brasileira de Letras, porque um mínimo de coisas esse sujeito tem de saber. Tem de saber que houve gregos, romanos, a Renascença. Tem de saber!

O QUE É CULTURA, MILLÔR?

Vou lhe dizer. Estou lendo o novo livro do Stephen Hawking, aquele cientista todo aleijadinho. Só um idiota vai achar que se pode ler esse livro de ponta a ponta. Então leio cinco páginas hoje, dez amanhã e, quando terminar, se tiver compreendido 20%, será muito. Cultura é isso: entender a extensão da própria ignorância. Lula não tem consciência da sua ignorância.

SERIA O "ENDEUSAMENTO" DO HOMEM POPULAR?

É o que estou dizendo. Quando ele começou a falar para platéias estrangeiras percebendo que não precisaria saber inglês, francês ou alemão, porque contava com a tradução simultânea, quando se deu conta de que Bush só fala bushismos e que o Chirac só está a fim de falar francês, daí relaxou. Sentiu-se bem entre os monoglotas do poder. O que o Lula não sabe é que todo império é monoglota - sempre. Os portugueses chegaram dominando pela língua. Lula é fronteiriço.

O QUE É SER FRONTEIRIÇO?

Quando está no meio dele, usando metáforas futebolísticas, ele se sai bem. Quando o meio é outro, ele se perturba. Pelos discursos que faz, o que se nota é a falta de coerência. Por exemplo: o caso do filho dele, acusado de ter montado uma empresa com favorecimentos. Numa hora, Lula discursa e diz que é preciso apurar tudo. Meia hora depois, reaparece dizendo que a família está sendo atacada. E fala, fala, ininterruptamente! É fronteiriço, não sabe o que está lhe acontecendo.

COMO UMA DERROCADA DO LULA VAI BATER NO POVÃO? O SELF-MADE MAN À BRASILEIRA É UM PROJETO QUE NÃO DEU CERTO?

Espera aí, self-made man é outra coisa, não é o sujeito que chega no topo de qualquer maneira. Você pode me dizer: Millôr, você é um preconceituoso. Não sou. A vida é normativa, como a própria Presidência. Por exemplo, o sujeito não pode ser presidente com menos de 35 anos. Isso é um critério. Você não operaria seu cérebro com um médico sem diploma. Nem voaria num avião conduzido por um sujeito que não é piloto. Imagina só: o piloto não aparece e a companhia aérea recruta um faxineiro do PT que estava ali, dando sopa. Você embarcaria? O povão tem o direito de eleger quem quiser e pode fazer burrada. No caso do Lula, não foi só o povão, não. Fomos todos nós.

VOCÊ ESTÁ DIZENDO QUE O "POVÃO" VOTA MAL?

Vota por questões sensoriais. Não é só aqui. Na Alemanha de hoje, um candidato neonazista pode não ganhar, mas vai ter uma boa votação. O cara não precisa nem ter aquele bigodinho, aquele cabelinho de viado que o Hitler tinha. Aliás, abre parêntese: Berlim tem 3 milhões de habitantes. Sabe quantos são os gays confessos? Uns 300 mil, fora os que estão no armário, os que não saíram do bunker. Hoje, em certas partes da Europa, como já não se estigmatiza ninguém, o sujeito deve declarar sua opção preferencial ao ocupar um cargo público. Pergunto: se o camarada diz que é, mas não é, seria falsidade ideológica? Fecha parêntese.

A CRISE POLÍTICA PODE DAR MARGEM AO APARECIMENTO DE UM NOVO COLLOR?

Não tem dúvida. Aqui no Brasil, quando se passa por um período de esculhambação generalizada, a sociedade cobra lei e ordem. Daí pode pintar um tipo desses, sim. É o perigo. Até hoje na Itália fala-se com saudade que, na época do Mussolini, os trens chegavam na hora. A verdade é que o mundo sempre fez acordo com a hipocrisia e a canalhice é imensa. Se não tivessem tirado o pão da boca do Pedro Collor, ele não teria falado. E o Roberto Jefferson? Quando percebeu que a bomba ia explodir em cima dele, resolveu falar. E se converteu numa figura histórica.

VOCÊ ACREDITA QUE JEFFERSON PASSARÁ PARA A HISTÓRIA?

Claro, ele derrubou a República e acabou com o PT!

O QUE VOCÊ ACHOU DO PRONUNCIAMENTO QUE O PRESIDENTE FEZ À NAÇÃO, NA SEXTA-FEIRA?

Resultado da ignorância dele e dos "intelectuais" que o assessoram. Como é que ele fala no "partido que eu fiz"? Isso não se diz assim, na primeira pessoa. O uso do "nós"é um aprendizado cultural que Lula não teve. E aquele grupo de ministros que assistia ao pronunciamento? Lamentável. Eu até fiz uns versinhos. Chama-se "Poema em ão". É assim: Se ele sabe do mensalão/é charlatão./Se ele não sabe/é um boçalão. Eu me senti ofendido com o pronunciamento.

POR QUE OFENDIDO?

Porque é muita ignorância. Não adianta, livro é livro e essa gente não leu nada, não escreveu nada. Até a bicha-louca do Hitler escreveu um livro na cadeia, que, convenhamos, até fez certo sucesso. "Vão ter de me engolir", diz Lula parodiando Zagallo, que não é lá o meu filósofo predileto. Daí avisei: ele agora vai aprofundar mais e citar o Chacrinha. Prefiro ficar com a minha filósofa, Dercy Gonçalves, que aos 98 anos anda dizendo o seguinte: "Hoje puta é status". Fernanda Karina, a secretária, acusou e já foi se preparando para sair nua na Playboy. Ao que parece, o material não foi aprovado. Uma coisa que humilha a gente é ouvir "não quero posar nua, quero ser reconhecida pelo meu trabalho". Eu não quero ser reconhecido pelo meu talento, quero sair nu na Playboy!!

CERTA VEZ PAULO FRANCIS ATRIBUIU A SEGUINTE FRASE A VOCÊ: "SE O LULA FOR ELEITO, O BRASIL VAI VIRAR UMA ROMÊNIA". VOCÊ DE FATO DISSE ISSO?

Não me recordo. Disse alguma coisa parecida em relação ao João Amazonas, o velho comunista. Escrevi o seguinte: "Revelado. João Amazonas tem uma conta na Albânia". E vou adiante. "José Dirceu tem uma conta em Cuba. Marcos Valério tem uma conta em Las Vegas." E o jantar que o Lula teve com o Chávez, sem avisar o Itamaraty? É ou não é a prova de que é fronteiriço? Este Chávez, que é um patife um pouco mais esperto, vem aqui para tirar uma castanha qualquer da brasa. A esculhambação geral vai dar num ridículo atroz.

É O FIM DO SONHO SOCIALISTA?

Olha aqui, a idéia do socialismo é maravilhosa. Como a idéia do cristianismo. Mas, na minha vida toda, eu nunca encontrei um cristão e um comunista de verdade. Sou um humanista ateu. No entanto, sou mais comunista e mais cristão que muita gente. Eu me responsabilizo pelas empregadas que me atendem. Não vou abandoná-las jamais. A idéia do socialismo é incrível, mas está fadada a não dar certo. Porque o ser humano não é isso. Ele é capitalista na essência. Quando desabou a União Soviética, fiquei surpreso com o tamanho do rombo econômico, mas a máfia já estava lá. Já tinha milionário, já tinha carrão na porta do restaurante. Tudo bem, sempre se pode colocar todas as contas na internet, fazer pressão, protestar na rua, mas, quando o "partido da pureza" chega ao poder imitando o modelo mexicano, daí não dá! Olha aqui, não vejo como o mundo possa se salvar.

HOJE DOIS PUBLICITÁRIOS ESTÃO NO EPICENTRO DO ESCÂNDALO - MARCOS VALÉRIO E DUDA MENDONÇA.

Não é por acaso. O jornalismo é uma profissão cujo objetivo "filosófico" é trazer à tona certas coisas que as pessoas não sabem. Tem um compromisso com a verdade. Agora, qual é o objetivo "filosófico" da publicidade? A mentira. É mentir sobre o sabonete, a maionese, a margarina, o político. Fazer anúncio sobre seguro médico é uma ofensa. Fico envergonhado ao ver que os bancos estão tomando dinheiro dos velhinhos e os atores da Globo anunciam isso. Os velhinhos pegam o dinheiro e pagam juro antecipado! É uma indecência. E por que o Estado tem de fazer publicidade? O que o Ministério da Saúde precisa é divulgar o calendário das vacinas, coisas assim. Não tenho respeito pela publicidade. Os caras ficam aí se gabando de que sabem fazer slogans e passam anos para criar coisas como "Coca-cola. É isso aí". De quantos slogans precisam? Faço dez agora.

VOCÊ PODERIA FAZER ALGUMAS DAS SUAS "DEFINIÇÕES APERTADINHAS"?

Vamos lá. Deixa pegar meus óculos. Não sei fazer definição sem eles.

Cueca.

Banco de dados. Afinal, todo o dinheiro que o sujeito levava era dado.

Mensalão.

Estupro econômico-social que não ousa dizer seu nome.

Repilo.

Poderia ser marca de repelente.

Campo Majoritário.

Maracanã.

Sujeito vertical.

Indivíduo que se curva ao menor vento contrário.

Opportunity.

A melhor tradução seria: Daniel Dantas.

Banco Rural.

Como diz a publicidade, nem parece um banco.

Lobista.

Praga para matar com "repilente".

Salário mínimo.

Salário máximo pago a um pobre diabo.

Comissão de Ética.

Ética que já vem com preço.

(Entrevista de Millor Fernandes para o Aliás, extraida do Blog do Noblat, indicada pelo meu grande amigo LC, vocês ainda vão ouvir falar muito dele em NY, París e Milão)

Monday, April 03, 2006

COOL


Trecho de
CONTOS D'ESCARNIO


O que eu podia fazer com as mulheres além de foder? Quando eram cultas, simplesmente me enojavam. Não sei se alguns de vocês já foderam com mulher culta ou coisa que o valha. Olhares misteriosos, pequenas citações a cada instante, afagos desprezíveis de mãozinhas sabidas, intempestivos discursos sobre a transitoriedade dos prazeres, mas como adoram o dinheiro as cadelonas! Uma delas, trintona, Flora, advogada que tinha um rabo brancão e a pele lisa igual à baga de jaca, citava Lucrécio enquanto me afagava os culhões e encostava nas bochechas translúcidas a minha caceta: ó Crasso (até aí o texto é dela) e depois Lucrécio: "o homem que vê claro lança de si os negócios e procura antes de tudo compreender a natureza das coisas". A natureza da própria pomba ela compreendia muito bem. Queria umas três vezes por noite o meu pau rombudo lá dentro. E antes desse meu esforço queria também a minha pobre língua se adentrando frenética naquela caverna vermelhona e úmida. Empapava os lençóis. Era preciso enxugá-la com uma bela toalha felpuda antes de meter na dita cuja. Na hora do gozo ria.

isso não é normal Flora.

bobinho! Isso é vida, alegria, o amor é alegre, Crassinho.

Histérica e sabichona dava gritinhos e rápidos aulidos, e quando tudo acabava, sentava-se sóbria na beirada da cama:

as causas judiciais demoram tanto para serem solucionadas, meu Crasso, tem algum numerário aí para mim? assim que receber dos meus clientes te pago. O seu único cliente era eu e claro que eu pagava. Afinal não me fazia mal ouvir Lucrécio de vez em quando, se a atriz discursante era dona daquela pomba molhada e faminta. Claro que nem todas as soi-disant cultas são assim tão chatas. Tive as cultas refinadas e originais também. Mas que mão de obra, meu pai! Uma delas é inesquecível. Josete. Inesquecível por vários motivos. Mas principalmente pelo gosto exótico na comida e no sexo. Ela adorava tordos com aspargos. E pastelões de ostras. Era preciso que eu telefonasse uma semana antes para os maîtres dos tais restaurantes. Tordo?! Nunca sabiam se era um pássaro ou um peixe. Eu imagino hoje que ela sempre acabava comendo um sabiá. Com aspargos. O pastelão de ostras era mais fácil. Mas os vinhos para acompanhar aquilo tudo! Josete entendia de vinhos como se tivesse nascido embaixo duma parreira de Avignon. Depois desse inferno todo, ainda tínhamos que dançar, porque é delicioso dançar com você amor, se você tivesse mais tempo...

tenho todo o tempo do mundo, querida (talvez tivesse, mas nem tanto!)

Tinha mania de uma música: You've changed, e era aquela xaropada até às duas da manhã mais ou menos, quando eu já havia mergulhado meus dedos várias vezes na sua suculenta xereca. Abria discreta e elegante as pernas nas boates, embaixo da mesa, enquanto engolia com avidez aqueles vinhos caríssimos. Sorrindo soltava um pífio arroto de tordos e ostras abafado entre os seus dois dedinhos, enquanto os meus (dedos naturalmente) beliscavam-lhe a cona. Muitas beliscadinhas, muito dedilhado até que ela gozava escondendo o gozo e simulando um segredo e enchendo de bafo, gemidos e saliva a concha do meu ouvido. Eu dizia com a caceta dura e espremida entre as calças:

vamos embora, hen bem?

tá tão gostoso, amor

eu sei, Josete, mas olha só o meu pau

não seja grosso, Crasso

E aí eu tinha que começar tudo de novo, não sem primeiro ouvi-la pedir as sobremesas e os licores. Depois de Josete ter gozado umas dez vezes entre sabiás e musses e álcoois dos mais finos que me custavam um caralhão de dinheiro, levantava-se garbosa, Espártaco antes da derrocada final, naturalmente. Eu ia atrás meio cego mas ainda sedento. Um tal de Ezra Pound, poeta norte-americano, era o xodó de Josete. Ô cara repelente. Um engodo. Invenção de letrados pedantescos. No primeiro dia que ela citou o tal poeta eu lhe disse: meu tio Vlad quando eu era molequinho, tinha crises de loucura quando ouvia esse aí falando numa rádio italiana. O cara era um bom fascistóide, você sabia?

bobagens, Crassinho, o homem foi um gênio.

Para agradá-la, pedi que me emprestasse algum livro dele. Emprestou Do Caos à Ordem, cantar XV. Aquilo era uma pústula, uma privada de estação em Cururu Mirim. Senão, vejam:



"O eminente escabroso olho do cu cagando

[moscas,

retumbando com imperialismo

urinol último, estrumeira, charco de mijo sem

[cloaca

................. o preservativo cheio de baratas,

tatuagens em volta do ânus

e em círculo de damas jogadoras de golfe em

[roda dele."

Josete adorava. Os olhinhos cor de alcaçuz, úmidos, tremelicavam. A boca repetia lentamente (em inglês, lógico) esses últimos dois versos do tal gênio: "tattoo marks around the anus, and a circle of lady golfers about him". Eu achava um lixo, mas não queria me desentender com toda aquela boceta-chupeta que literalmente, quando ativada, abraçava e quase engolia o meu pau.

tudo bem, Josete, se você gosta... de gustibus et coloribus etc.

pois gosto tanto, amor, que vou te mostrar a que ponto vai minha reverência por esse autor admirável

Abatido, já me imaginei desperdiçando aquelas horas a folhear idiotias, ainda mais em inglês. Estávamos no apartamento de Josete. Pensei: é agora que ela vai se levantar e esparramar os livros do nojento aqui na cama. E adeus mesmo, vou inventar uma súbita náusea e me mando. Surprise! Ah, como a vida me encheu de surpresas! Josete deitou-se de bruços e ordenou lacônica:

pegue aquela grande lupa lá na minha mesinha.

Lupa?

Lupa, sim, Crassinho.

Então peguei.

faz um favor, benzinho, abra o meu cu.

como?

oh, Crassinho, como você está ralenti esta noite

e o que eu faço com a lupa?

a lupa é pra você olhar ao redor dele.

ao redor do seu cu, Josete?

evidente, Crassinho.

Foi espantoso. Ao redor do buraco de Josete, tatuadas com infinito esmero e extrema competência estavam três damas com seus lindos vestidos de babados. Uma delas tinha na cabeça um fino chapéu de florzinhas e rendas.

não acredito no que estou vendo, Josete, você tatuou à volta do seu cu pra quê?

homenagem a Pound, Crassinho

mas isso deve ter doído um bocado!

the courageous violent slashing themselves with knifes ( que quer dizer: os violentos corajosos cortando-se com facas. Continuação do Canto XV).

coma meu cuzinho, coma meu bem, andiamo, andiamo (cacoetes de Pound)

Aí achei o cúmulo. "Jamais, meu amor, machucaria essas lindas damas". Josete começou a chorar.

ó Crasso, você é o primeiro homem a quem eu mostro esse mimo, essa delicadeza, essa terna homenagem ao meu poeta, andiamo, andiamo in the great scabrous arse-hole (no grande escabroso olho do cu)

Aí pensei: essa maldita louca vai começar a choramingar mais alto e o prédio inteiro vai ouvir. Enchi-me de coragem e estraçalhei-lhe o rabo com inglesas ou americanas (who knows?) e babados e o chapéu, não naturalmente sem antes lhe tapar a boca, porque tinha certeza que ela ia zurrar como um asno. Zurrou abafada, mas eu podia discernir algumas palavras. Ela zurrava: ó (leia-se aou, aou, aou, entonação inglesa) Aou Ezra, aou my beloved Ezra! Nunca entendi por que Josete quando citava Pound colocava a entonação inglesa. Também nunca perguntei. Certamente o nojento era o Shakespeare dela.

(...)



(Contos D'Escárnio/Textos Grotescos, de Hilda Hilst - SP: Siciliano, 1990.)

Saturday, April 01, 2006

É TUTTY MENTIRA, EU JURO.

No país da lorota: Primeiro de abril já não tem sentindo no Brasil, agora que a mentira é epidêmica

A UTOPIA DA VERDADE

Deve ser mentira. Toda e qualquer busca na Internet sobre as origens do 1º de abril leva a ene possibilidades, uma delas... bem, esse “uma delas” – daí minha desconfiança – é sempre a mesma versão. Se “existem várias histórias que explicam o surgimento do Dia da Mentira”, por que não me deixam escolher a que me parecer mais verdadeira? Escolheram pra gente esta:

No tempo em que a França parecia muito a Bahia, estamos em meados do século 16, comemorava-se o réveillon entre os dias 25 de março e 1º de abril, quando o ano efetivamente começava. Daí que o rei Carlos IX, pelo visto uma espécie de César Maia gaulês, resolveu de uma hora para outra adotar o calendário gregoriano, mudando a data de Ano Novo para 1o de janeiro. Como em 1564 quem estava no poder ainda não dispunha de blog para falar e se explicar aos súditos, muita gente continuou estourando champanhe no 1º de abril – há contradições se por ignorância, tolice ou teimosia. Não importa! Virou uma data falsa, inventada, comemoração extemporânea, puro engano, motivo de gozação.

Nasceu aí a mentirinha, que depois virou nome de biscoito, mas na época era só uma brincadeira. Os franceses, com aquele senso de humor que lhes é peculiar, mandavam uns pros outros convites para festas que não existiam e sempre caíam no 1º de abril. Virou, em boa parte do mundo, o Dia da Mentira, mentira bem entendida no sentido de enganar o bobo na casca do ovo. A imprensa, depois que passou a existir, contribuiu muito para o sucesso internacional da data. Deu nos jornais do século 20: Maradona será técnico da seleção do Vietnã; África do Sul comprou Moçambique; plantação de espaguete é a grande novidade do setor agrícola; Brasil não vai à Copa do Mundo porque dinheiro da seleção foi usado em combate a incêndio em Roraima...

Faltar com a verdade, como se vê, não era necessariamente grave antes da instituição da mentira deslavada no Brasil. Como diz o outro, “nunca na história desse país” se mentiu tanto. Mentem os homens de bem, inclusive. Mente-se com convicção! De manhã, de tarde, de noite, em casa, nas ruas, no trabalho, entre amigos, na frente de todo mundo, na televisão, nos jornais, nos palanques, no mundo dos negócios, nos botequins, todo dia agora é Dia da Mentira no país da lorota. Qualquer cascata que se diga nesse 1o de abril não estará muito longe da verdade que se conta o resto do ano. A data específica de celebração da mentira perdeu, portanto, razão de ser!

Nenhuma notícia é suficientemente absurda para não ser verdadeira. “Deputado cassado por corrupção traficava rins de menores de rua” – juro que li algo assim dia desses no jornal e, confesso, na hora não achei nada de mais. O governo Lula, não se pode negar, nos preparou para o pior. Nada mais é inacreditável nos dias que seguem. Esta semana, por exemplo, um caseiro derrubou o ministro da Fazenda e Gilberto Gil chamou Hélio Costa de Hélio Bosta, que reagiu à altura: “Ele é que é Gilberto Vil”. Pode? Pode!

Pode tudo! Todo mundo pode dizer o que quiser e depois, se alguém ficar chateado, pedir desculpas pelo que disse, e pronto! Não estou falando só dos políticos, não! Lima Duarte não explicou por que desancou a Globo e colegas de novela em conversa com a “Folha”. Ih, foi mal, gente! – saiu-se com algo parecido. Vai ver pensou que a entrevista seria publicada no 1o de abril.

Por essas e por outras, o Dia da Mentira nesse 2006 deveria ser celebrado com um minuto de silêncio em homenagem à verdade, coitada, que nos deixou antes que chegasse sua hora.

Ps.Texto de Tutty Vasques, em Nominimo.

Friday, March 31, 2006

QUE TAL COMEÇAR COM ALGUMAS ESTROVENGADAS RODRIGUEANAS?


"Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem".


"O 'homem de bem' é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu".


"O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: - o da imaturidade".


"Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante".


"Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância".


"No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando".


Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes "É proibido proibir" e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais.


"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - "Senhoras e senhores, eu sou um canalha".


"Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: — "O cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem ler e sem pensar". Mas não só o cinema dá uma carteirinha de intelectual profundo. Também o socialismo. Sim, o socialismo é outra maneira facílima de ser intelectual sem ligar duas idéias".


"As cartas de Marx mostram que ele era imperialista, colonialista, racista, genocida, que queria a destruição dos povos miseráveis e "sem história", os quais chama de "piolhentos", de "anões", de "suínos" e que não mereciam existir. Esse é o Marx de verdade, não o da nossa fantasia, não o do nosso delírio, mas o sem retoque, o Marx tragicamente autêntico".


"D. Helder já esqueceu tanto a letra do Hino Nacional quanto a da Ave-Maria. Prega a luta armada, a aliança do marxismo e do cristianismo. Se ele pegasse uma carabina e fosse para o mato, ou para o terreno baldio, dando tiros em todas as direções, como um Tom Mix, estaria arriscando a pele, assumindo uma responsabilidade trágica e eu não diria nada. Mas não faz isso e se protege com a batina. Sabe que um D. Helder sem batina, um D. Helder almofadinha, de paletó ou de terno da Ducal, não resistiria um segundo. Nem um cachorro vira-lata o seguiria".


"[Até o século XIX] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores" pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas".

(frases e textos de Nelson Rodrigues)