eeeiiii...
Você acorda e quer que o mundo faça silêncio. Não você, o mundo, porque você não quer fazer silêncio algum, na verdade você está mesmo a fim de escandalizar, e quer que a porra do mundo todo escute; que processe as informações fornecidas pelo seu escândalo e diga: ei! A gente entende você. Gostaria de ir lá naqueles ouvidos surdos, cutucar lá dentro com um cotonete gigante e tirar todas as sujeiras, pra poder alguma coisa entrar, e dizer assim: eiiii vocês! Vocês me magoam tanto, vocês me doem tanto, mas me cansam tanto também, é um saco essa mesmice em sempre querer me ver me sentindo uma bosta pra se acharem melhor. Nem com toda evolução do mundo, eu consigo dizer baixinho pra mim: coitadinhos, eu os entendo. Muito ao contrário sabia? Tô achando esse comportamento cada vez mais repetitivo, custoso, e vocês não têm nada de coitadinhos, são bem filhos da puta mesmo. Cadê aquela originalidade que eu admirava tanto heim? Vocês são tão recursivos, sabia? Sabia? Porque eu não sabia não. Tenho até aprendido a respeitar e ser grata ao mundo, e até a vocês que me tornaram uma pessoa melhor. Eu assumo! Vocês foram foda, me encheram de culpas, me esgotaram de remorsos, mas me transformaram tanto. To vivendo uma verdadeira revolução íntima saca? E tenho tanta gratidão por vocês terem feito parte disso. Eu os respeito tanto. Por que vocês não percebem que o que importa é o que conseguimos ganhar? O que se perdeu, não existe mais, e querer me ver perdida não vai fazer ninguém se encontrar. Logo no dia que eu acordo cheia de esperanças muito claras de que agora posso andar leve e bem devagar, porque nunca mais chego atrasada. Logo quando decido apenas rir pra quem merece, e fazer cara feia pra o que me incomoda. No dia que acordo toda corajosa, acreditando tanto nisso, vocês vêem pra jogar pimenta nos meus olhos. Sabe vocês aí? Hoje acordei sem saber que ia confirmar que sou mesmo uma bostinha incorrigível, sou mesmo, nunca fui dessa gente perfeita e virtuosa, mas bem que já fiz feliz um monte de gente, até vocês. Sou uma filhazinha da puta que vocês tentam lembrar todo dia, que é mais filhinha da puta que vocês, sei lá pra que, mas quer saber? Eu vivi num eterno suspense pra agradar vocês, até enxergar que mais bostinha que eu é essa vida que vocês levam, tentando se equilibrar no presente com suas bengalas do passado. Era tão bom quando eu achava que vocês eram melhores que eu, pelo menos eu carregava a idéia que bostinhas como eu não se repetiam, mas não só se repetem, como fedem muito mais.
[Um chute raivoso nos ovos da hipocrisia de, Cacá Farias, uma mulher com culhões pra escrever o que sente]
